Como um dia a noite…

Recolheram todas as coisas, levaram os montes, os tombos, os entulhos, as folhas, os pesos, as medidas, o depois e o horizonte. Levaram o sangue e no lugar deixaram o aço incalculavelmente pesado, levaram a pulsação e ao posto do ritmo ficou a dor apertada, cada vez mais apertada em coisa qualquer.Amanhecera e não havia…

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Deixa estar…

Era uma estrela perdida no céu chorando a chuva da noite. Uma estrela piscando firmamento, o firmamento desconcertado na manhã do sonho maduro. Contou nos dedos o cálculo, o passado, o tempo corrido, o vento correndo desde o último choro. Não há memória, escapava a precisão visualizável na condição motora dos dedos.Fingiu tentar, não encontrava…

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Normalidade…

Provei as palavras e o vazio dos tijolos, o deserto das ruas e a terra banhada. Provei a chuva feita das árvores que derramavam pela grama os pingos de pólen, um jeito de folha. E provei das asas dos pássaros, os passos bicados de um corvo no telhado. Gostei do peso das asas da borboleta…

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A criança…

A sala de costura foi improvisadamente alinhavada para modelar os trechos recortados da escrita. Na sala de costura remendei os meus pedaços e fiz a sua forma. Não era o jeito do cabelo, a doçura da pele, a calma dos olhos. Era o gesto que tinha ao deitar o rosto no meu ombro, acomodando-se no…

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Esquecimento – trecho

(…)Eu interroguei o mundo para saber se aquela volta até o depois do último grau de consequência, se aquela volta era para mim… Na interrogação balançava: que mundo? onde está ou onde é? qual mundo? que mundo é? Na minha interrogação pendurava-se o oco embrulho de um resquício brilhoso de lágrima parada em olhos movediços…

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Casa na árvore, girassóis nas mãos…

Quando abrir os portões: aprender a costurar, casar vestindo azul, pintar um quarto, pendurar os quadros, as paredes, as cadeiras. Pintar as linhas, as entrelinhas, pintar as fissuras, a reinvenção das cores dos olhos, o leito das letras e as curvas do mar.Quando abrir o portão: preparar café, contar as colheradas, sentir na boca o…

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Pipoca doce…

Sábado comi pipoca, sexta-feira também. Fiz pipoca de jantar, talvez amanhã outra vez… Como pipoca olhando pela janela, escutando a fissura na pele como um teque-teque de letras saltitantes. Várias vezes na semana, não é raro, pipoca como janta. A panela é pequena para a quantidade de grãos que pulam contra o guardanapo preso fechado…

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Tempos difíceis…

Calejada de momentos difíceis, pedras coitadas que pregam a sola do pé… ranhuras marcando a pele, mancando os passos que eram (des)andados enquanto ali o invisível temor ainda não alcançara.Calejada… calejada de momentos difíceis, do que foi sendo tomado, tirado, levado, carregado, recolhido, roubado (?) – talvez porque fosse preciso. Até a possibilidade de trabalho…

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Andrà tutto bene…

Saí…Era preciso…Era o que fora determinado como necessidade…Cada passo dado era a direção de um lugar redesenhado em medida de emergência. A precisão das coisas postas mostrava como tudo estava fora do lugar.Estendido estava o silêncio sobre todos, como um lençol recém lavado tirado do varal. Os pássaros sentiam-se mais perto, suas vozes mais altas….

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Quem pode que seja afeto…

Na manhã a cidade sentia, comentavam os negócios fechados que a última vez que foram vestidos assim fora durante a segunda guerra, a última vez que as ruas ficaram assim foi na guerra… Nos tiros e alvos da segunda guerra…A mudança das ruas e das calçadas verteu-me uma lágrima, única. Meu caminhar definido no ir…

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