Do binário errado

O mundo caia na cabeça se desfazendo. Olhou para o céu sorrindo. Sorria enquanto o mundo caia na cabeça. Na janela, sinais do vento. Quando o trem moveu os trilhos um grão de pó ficou para trás. O café esfriou na cafeteira sem que alguém bebesse o último gole morno. Um pássaro morreu na calçada,…

Continue lendo

Quando as luzes se apagaram

Quando as últimas luzes foram apagadas o que sobrou no prato foi um resto de domingo, uma bola de arroz duro no estômago, livros não lidos… Um silêncio quase vazio, embrionário e forte que respirava lento, lento… Ao fim, quando o quarto foi deixado no escuro, um rosto borrado se escondeu no travesseiro, no calor…

Continue lendo

Quarto vazio

Apaguei as últimas palavras desconhecidas no livro. Assoprei as migalhas de borracha. Escrevi poucas linhas e fechei o caderno vermelho. Deixei o copo na porta. Havia menos, ainda era menos de um gole o que esperava no fundo. Minha cabeça acostumada a girar não girava.  Entrei e fechei a porta. Apaguei a luz. Tirei a…

Continue lendo

Trecho: Tristeza

(…) (me) des-acalma. Acalma(-se). Escreve (escrevo) como única certeza. Única verdade. Não é a única possibilidade. É a única possibilidade. Porque mesmo que o mundo acabe, mesmo que tudo se desfaça, mesmo que os livros e as notas coloridas de preço nunca cheguem. Mesmo se nada, nada, nada, nada nunca acontecer. Mesmo que nada nunca…

Continue lendo

Eu Van Gogh de orelha decepada

Tenho dentro um Van Gogh. De orelhas que foram decepadas pelo ruído insistente no ouvido. Cobrança que chegou com juros. Eles empurram garganta abaixo — como num pato de indústria de patê — o mundo que eu deveria ver. Eu não vejo. O dinheiro quase sujo, nos apodreceu numa manhã sem água nem sol. Mas como Van Gogh tenho…

Continue lendo

Enquanto lê o conto da semana

Lê um conto. Daqueles que chegam uma vez por semana. No meio da leitura, enquanto os olhos correm da esquerda para a direita, escreve um conto que não escreve. Espera pelo fim (do conto). Aí vai crescendo em letras erradas aquela ânsia — meio vômito meio choro — não anunciada num “quero minha mãe” criança da pré-escola, adulto que…

Continue lendo