Na manhã seguinte…

Foi o desespero que me colocou no papel com uma gota com dedos agarrando a goela, a raiva de segurar o choro e a curva de dizer.Foi o choro quase chorado que me colocou no papel rangendo os dentes, estremecendo cada superfície e cada palavra errada, cada lentidão de dedos e ossos.Afogara-se na garganta cada…

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Desistência… – trecho

(…)“Desisto”Escrevo…Coloco-me para embalar no fundo do poço.“Desisto”, escrevo…Eu fracassei.Eu fracassei tão bem e continuo. E fracasso com tanta má desenvoltura que até fracassando eu fracasso. Fracasso pelas metades. Há resíduos, um pouco de pó e poeira que atrapalham o fracasso.Eu fracassei, engulo com liberdade. Ando só e sigo. É livre, um passo no escuro, divagar,…

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Bilhete…

Há dias, semanas, penso ter sonhos… Não reviro pensamentos, guardo os olhos na superfície das raízes. Não encontro, nem aceso nem dormente, sonho nenhum. Na falta não concluo nem retenho, não chego nem alcanço. Sento-me…E na linha entre um corpo sentado, o sonho e o que vem perco o que não sei. Sou a criança…

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Segunda carta para Pedro…

A primeira vez que escrevi para você foi há cinco anos atrás. Eram palavras que se arriscavam em apresentar um mundo para um mundo que estava prestes a chegar. As minhas frases eram uma cápsula que guardava o ar respingado de um mundo in-dimensionável que se preparava enquanto aquele ser chamado Pedro também se preparava….

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A missa…

Andei às ruas querendo o cheiro das páginas de uma livraria. Tinha um destino escrito ao sair de casa, um receio deixado, um anseio por tocar páginas e lombas. Uma noite anterior projetada na ponta da lanterna à dimensão do dia seguinte.Trabalho naquela manhã era apoiar a máscara nas orelhas, levar as luvas no bolso,…

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Inspiração…

Agendei horário para ficar com a chuva, escutá-la… Não é verdade, quando veio previsível e improvável eu apaguei a luz e fui para ela, pedi se podia ficar… Fiquei na luz escura, o estado natural…Enquanto chove não quero outra coisa senão aquilo que a chuva conta, a contação da chuva, a história entre histórias de…

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Como um dia a noite…

Recolheram todas as coisas, levaram os montes, os tombos, os entulhos, as folhas, os pesos, as medidas, o depois e o horizonte. Levaram o sangue e no lugar deixaram o aço incalculavelmente pesado, levaram a pulsação e ao posto do ritmo ficou a dor apertada, cada vez mais apertada em coisa qualquer.Amanhecera e não havia…

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Deixa estar…

Era uma estrela perdida no céu chorando a chuva da noite. Uma estrela piscando firmamento, o firmamento desconcertado na manhã do sonho maduro. Contou nos dedos o cálculo, o passado, o tempo corrido, o vento correndo desde o último choro. Não há memória, escapava a precisão visualizável na condição motora dos dedos.Fingiu tentar, não encontrava…

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A criança…

A sala de costura foi improvisadamente alinhavada para modelar os trechos recortados da escrita. Na sala de costura remendei os meus pedaços e fiz a sua forma. Não era o jeito do cabelo, a doçura da pele, a calma dos olhos. Era o gesto que tinha ao deitar o rosto no meu ombro, acomodando-se no…

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Eu que não cresci

Quem brincou comigo de boneca, agora tem nas mãos bonecas que movem os pés quando querem ao mesmo tempo em que jogam os bracinhos no ar. Mas eu… Eu que não cresci, fiquei de lado na brincadeira. Mudei de lado na terça-feira e, sei lá, deixei ir por outro trilho, outra margem na folha. Fui…

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